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Era uma vez uma rapariga chamada Ana. Ela gostava bastante de teatro e, como tal, fazia parte da companhia de teatro amadora da sua terra. A companhia estava repleta de jovens atores amadores, como ela. Até à data, ela nunca tinha namorado e não lhe passava pela cabeça que o seu futuro primeiro e, esperançosamente, único namorado, se encontrava naquele grupo.
Ele chamava-se Tiago. Era da sua altura, cabelo aloirado, lindos olhos verdes, lábios carnudos e tinha uma voz que, já na altura, despertava a atenção de Ana. Eles não se falavam. Eram colegas, apenas, e a única coisa que ela sabia sobre ele era o seu nome e que gostava bastante da sua voz. Ainda foram colegas de teatro durante uns meses, mas entretanto ele saiu do grupo. Ana permaneceu e foi conhecendo várias pessoas, colegas e mesmo amigos.
Em Abril de 2012, dois anos depois da saída de Tiago, eis que ele volta ao grupo. À medida que o tempo foi passando, eles começaram a falar, a conhecer-se, até que uma amizade começou a nascer entre eles. Tiago começou a olhar para Ana de maneira diferente, mas ela via-o apenas como um amigo.
No verão, algo curioso aconteceu. Após Tiago e mais dois amigos ganharem convites duplos para uma ante-estreia, convidaram três pessoas, sendo Ana uma das convidadas. No dia da ante-estreia, só duas pessoas ficaram na fila e quando chegou à nossa vez, não aceitaram um dos convites e, como tal, duas pessoas não puderam ir ver o filme. Tiago decidiu que ele e o primo não iriam ver o filme e que iriam dar uma volta. O filme acabou e ela confessou a um dos amigos que também tinha ido ver o filme que estava a gostar bastante da atenção de Tiago durante aquele dia, a qual era exatamente como ela gostava: discreta e carinhosa. Contudo, Nuno contou-lhe que ele estava a dar-se muito bem com uma ex-namorada e que talvez eles retomassem o namoro. Assim, Ana desistiu da ideia e pelos vistos não foi a única. Pois Tiago também descobriu nesse dia que Ana estava a gostar de outra pessoa. O tempo foi passando e eles nunca deixaram de falar, pelo contrário, foram falando cada vez mais pela net e quando tinham ensaios. Só no dia de S. Martinho é que Tiago confessou a Ana que tinha gostado dela no verão. Contudo, também lhe disse que tinha sido algo do passado e para não se preocupar. Ao que tudo indica, ele não queria estragar a sua amizade. Mesmo assim, Tiago continuou sempre a ser atencioso com ela e, não sabendo, foi despertando a atenção de Ana.
Um dia, ao prepararem-se para um espetáculo, no início de Janeiro, algo aconteceu. Algo tão simples e que viria a mudar o mundo da nossa protagonista. Um simples beijo de Tiago entre o pescoço e o ombro direito de Ana. Sim, apenas isto. Ela estava a acabar de se maquilhar e, ao passar por ela, Tiago deu-lhe um beijo simples naquela zona, um beijo rápido, mas um beijo inesquecível. Ela, por mais que tentasse, não conseguia deixar de admitir que tinha adorado aquele gesto e, mais grave, que tinha, secretamente, adorado-o por ter sido Tiago o protagonista de tal gesto. Ela não conseguia esquecer aquele momento. Foi então que um grande dilema a invadiu. Ela, que sempre disse que o queria apenas como amigo, não conseguia evitar os pensamentos acerca dele, a lembrança daquele momento, a saudade do mesmo e o querer poder repeti-lo. Também começou a notar que tinha começado a sentir ciúmes das amigas de Tiago. Algo estava errado. Ela não queria estragar a amizade que tinham e também não queria admitir nem a ela própria que tinha começado a nutrir outros sentimentos pelo amigo. A sua sorte foi que o carnaval já estava à porta e sabia que o ia passar longe dele, ia conhecer novas pessoas, ver outras vistas e esperançosamente esquecer aqueles sentimentos.
Por momentos ela pensou que tinha conseguido, mas assim que retomaram os ensaios ela percebeu que não. Estava sempre atenta ao que ele dizia, tentava chamar a sua atenção e o pior foi quando, já em meados de fevereiro, numa conversa banal, ele lhe disse que já não sentia o que tinha sentido e para estar descansada, o que a chateou bastante. Aliás, foi nessa mesma noite que Ana abriu os olhos ao sentir algo que nunca tinha sentido na vida: borboletas na barriga! Sim, é verdade. Foi após Tiago lhe esticar a mão para que ela a agarrasse, visto estarem num local apinhado de gente, que Ana, ao ir para agarrar a sua mão, sentiu a barriga estranha, instalou-se um nervoso repentino e decidiu agarrar-se ao braço dele. É, exato. Foi com isso que ela percebeu que já não adiantava mentir mais a ela própria. Estava na hora de agir, apesar de ela não fazer a mínima ideia de como.
Durante a semana seguinte combinou-se ir ver um filme a casa de um amigo, com direito a pipocas, bebidas e lareira acesa. Eram apenas 4 amigos, numa quinta-feira à tarde. Três sentados num sofá e o dono da casa sentado numa poltrona. Ana ficou sentada entre Tiago e outro amigo. A meio do filme, o frio começou a dar e as mantas estavam mesmo à mão. Como tal, aconchegámo-nos com as mantas e quando menos se esperava, Ana e Tiago tinham as suas mãos muito perto e, sem pedir qualquer tipo de licença e sem se conterem, ambos deram as mãos por baixo da manta, discretamente e sem nada dizerem. As carícias na mão um do outro começaram. Mas quando o filme acabou e as mantas foram arrumadas, acabou. Não disseram nada mais um ao outro e mal se olhavam. Que queria aquilo dizer? Ana também não sabia mas queria saber desesperadamente.
No dia seguinte tiveram ensaio e já se tinha combinado que quando acabasse, o grupo iria sair para ver a atuação de uma amiga num bar homossexual. Foi uma noite de ensaio um pouco estranha. Ana não sabia o que fazer ou dizer e Tiago pouco dizia. Quando acabou, lá foram a caminho dos carros. Era suposto Ana ir num carro e Tiago ir noutro. Contudo, acabaram por ir no mesmo carro, ao lado um do outro. Ana sabia que Tiago estava um pouco triste por ela tê-lo evitado durante o ensaio e, mesmo não sabendo o que fazer, ela simplesmente pôs a sua mão na perna dele durante a viagem. Quando saíram do carro, dirigiram-se ao bar e, após verem a atuação, o grupo dirigiu-se à sala do lado onde iriam ficar a curtir a noite. Lá, após Ana começar a pôr o seu medo de lado, eis que começou a meter-se com Tiago, a dançar com ele, mas sempre sem grandes desenvolvimentos. Só quando se foram embora, no caminho para casa é que o caso mudou de figura. Apesar de Ana não ter qualquer tipo de sono, muito pelo contrário, ela pediu a Tiago que a deixasse se encostar a ele para ‘descansar’, pois estava um pouco cansada. É verdade, só tretas. Mas pelos vistos foram umas boas tretas. À medida que a viagem ia avançando, Ana e Tiago chegavam-se cada vez mais um ao outro. As suas cabeças estavam cada vez mais próximas. Leves carícias iam tomando lugar. E de repente, quando estavam com suas cabeças muito próximas, Tiago colocou a sua mão esquerda por baixo do queixo de Ana, erguendo a sua boca ao nível da dele e aconteceu. O primeiro beijo deste casal tão peculiar. Aliás, peculiar foi a reação deles após o beijo. Começaram os dois a rir, como se soubessem que ia acontecer e que já nada os impediria. Como se soubessem que não poderia ter sido evitado. Como se soubessem que tinham sido uns parvos ao dificultar tanto as coisas e que a felicidade estava à frente um do outro.
Agora Ana sabe que a felicidade é algo que se vai construindo bem como o amor. Que só juntos é que as dificuldades podem ser vencidas e que depois da tempestade há sempre um arco-íris. Agora ela sabe, aliás, eu sei!
E foi assim que começou esta história que já se prolonga há quase dois anos. Aliás, há muito quase dois anos. 2 de Março de 2013. Já falta pouco para celebrar dois anos de tudo o que já se passou durante este namoro, desde que começou. Já falta pouco para celebrar esse arco-íris. Adoro-te meu texugo. És o meu arco-íris.