Crenças do Brasil | O Nosso Casamento

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Crenças do Brasil

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#1 Sexta, 29/08/2008 - 12:11
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AnaR.
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Desde: 14.04.2008 - 21:36

Crenças do Brasil

...Bem no Brasil em relação aos casamentos é assim:

" Noivas, noivos e sogras na crendide popular

O folclore é o conjunto das tradições, conhecimentos ou crenças de um povo. É expresso em provérbios, poesias, canções, adivinhações de origem popular. O Brasil encontra no Nordeste uma região de uma riqueza folclórica formidável. Nossa gente é mui supersticiosa e guarda com carinho as tradições de gerações a gerações. Durante o mês de junho fizemos uma série de reportagens focalizando algumas dessas manifestações: as crenças sobre o Santo Antônio Casamenteiro, São João Batista e finalmente São Pedro. Hoje falaremos acerca de um assunto mais vasto e que tem um interesse enorme para todos, mormente rapazes e moças. Trata-se do matrimônio visto pelo folclore de todo o mundo.

Poder do amor

As crendices e os prognósticos ligados ao casamento existem em todos os países. "Denunciam — como diz Câmara Cascudo no seu Dicionário do folclore brasileiro — a importância capital do sexo, o lírico poder do amor, onipotente e onipresente". O povo dedica milhares de adivinhações e fórmulas aos santos casamenteiros — Santo Antônio, São Gonçalo e outros — para descobrir o futuro amoroso. Falaremos da cerimônia do casamento e as crenças que o povo guarda sobre o ato, tanto antes, como durante e depois. São interessantíssimos. Tanto nas grandes cidades como no interior muitas permanecem bem vivas: atirar punhados de arroz nos noivos, as mocinhas apanharem o buquê que a noiva deve jogar de costas, etc. etc.

Antes do casório

Citaremos as crenças na ordem: antes, durante e depois do casamento.

O matrimônio deve ser realizado nos dias da semana e não no domingo.

Moça que casa no dia de Santana (hoje, 26 de julho), morre de parto.

Todo o enxoval da noiva deve ser gasto em uso pessoal; aquelas que presenteam roupas ou sapatos do enxoval está dando parte da felicidade.

Prender o vestido branco com um alfinete: colocar na cabeça a grinalda de flores de laranjeira, significa um grande anúncio para casamento muito próximo.

Escreve-se o nome das moças no solado do sapato do futuro marido, ou mesmo num pedaço de papel que é posto dentro do sapato — isto dá sorte.

Na véspera

Para a manhã da véspera do dia em que será realizada a cerimônia, existem gostosas crendices.

A noiva não pode praticar certos atos que poderiam trazer agouro para o futuro: fica proibida de ver ou provocar sangue, por exemplo, matando uma ave ou ajudando na cozinha.

Só deverá sair de sua casa direto para a igreja.

Não se deve referir a conhecidos que sejam infelizes no casamento, ou que tenham má conduta. Dá azar...

Na hora da ida para o altar, o par de noivos deve ser o último; já após o casamento, o casal há de ser o primeiro.

Quanto ao excelentíssimo noivo: ele apenas deverá ver a eleita, vestida para as núpcias, não nos trajes diários.

Durante as núpcias

Também para os momentos do casório a fértil imaginação popular guarda muitas crenças.

Quem tropeçar na porta do templo ou levantar primeiro ao terminar o ato religioso, ou ainda, pisar as pedras da rua, morrerá antes do cônjuge. Não podem os noivos olhar para trás quer estejam indo ou voltando para a igreja. Se a noiva gostava de comer na panela em que os alimentos são preparados em casa, fique certa que haverá chuva durante seu casamento...

Depois

Aí encontramos as tradições mais conhecidas pelo povo da capital. Os nubentes são recebidos com uma chuva de arroz, ao entrarem em casa. A esposa jogará o buquê, de costas, para um grupo de mocinhas: a que apanhar casará primeiro. Oferecerá a recém-casada as flores do seu ramo, oficialmente os cravos, às amigas e rapazes, mordendo os botões; os presenteados também casarão logo. A noiva será carregada nos braços do noivo.

Comenta Luiz da Câmara Cascudo no seu Dicionário referido, que são conservados em muitos lugares estas e muitas outras tradições, principalmente no sertão brasileiro. E cita mais estes: Recepção dos casados com foguetes, vivas, os cantadores louvando-os, um tradicional baile de casamento (não é mais usado nos casamentos das cidades). Quem não fizer uma festa, por mais humilde que seja, quando casar, será miserável (pobre ou avarento) a vida inteira. No sertão ainda se mantém a tradição de o marido e a mulher amanhecerem vestidos de branco...

Casamento x sogra

Estamos falando acerca do casamento. Ora, não podemos de maneira alguma deixar de falar sobre as tradições reservadas para as mães das noivas. "No folclore, notadamente nos contos populares, as sogras representam o mesmo papel odiante das madrastas". Desde a antiguidade que são registradas as divergências entre estas duas partes: esposo e mãe da esposa. Versos, pilhérias, anedotas, de um quadrante a outro mundo, tornan a sogra objeto de constante intriga, inimiga do sossego do casal, do lar, e da paz doméstica. É uma coisa rara, convenhamos, é haver compreensão. Usualmente a mãe da noiva incompatibiliza-se com o noivo. Como também, para não ficar atrás, a noiva briga com a mãe do noivo. E assim, vão as coisas... Mas o certo é que sempre houve, está havendo e haverá casamento, com sogra ou sem sogra.

Rancor da sogra

O folclorista citado comenta que cientistas tentam explicar de um modo ou de outro o problema:

Freud explana pela prova da ambivalência entre ambos, elementos afetuosos e hostis, atração sexual recalcada e o horror do incesto...

John Dubbock, já este lembra a possibilidade de uma reminiscência de rancor da sogra, como lembrança do tempo em que as noivas eram raptadas.

O sogro é que anula bastante tais conclusões. Isto porque, tendo os mesmo motivos, não possui a animosidade atribuída às mães das noivas...

É certo que toda regra tem exceção. Assim, muita gente casa e vive feliz, felicíssimo com a sogra. Reconhecemos que usualmente a "pérola" é boa, porém a "madre-pérola"...

Porém, paremos aqui e entreguemos a questão ao leitor.

O repórter só espera que sua sogra não ligue a certas considerações desta reportagem. Oxalá, não ligue, senão...
("Noivas, noivos e sogras na crendide popular". Diário da Noite. Recife, 23 de julho de 1956)

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Este texto em: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/junho67/pn...