Em Nome da Rosa apresentamos Maurício Fernandes | O Nosso Casamento

Em Nome da Rosa apresentamos Maurício Fernandes

Para quem não conhece a loja, nada como dar um passeio pela zona do Príncipe Real em Lisboa, e deparar-se com as suas flores belas e únicas, selecionadas exclusivamente pelo seu tom e originalidade e dispostas logo na entrada da sua nova loja. Maurício em nada descura as suas obras de arte floral e, se existe alguém perfeito para criar um elegante bouquet de noiva, será certamente ele.

Como surgiu o projeto Em nome da Rosa?

O projeto Em nome da Rosa surgiu porque eu fazia flores para casa que comprava sempre na Ribeira: trazia-as para casa e num jantar, amigos meus disseram “Tens tanto jeito para trabalhares com flores, porque não abres uma loja?”. Assim surgiu a ideia e abri uma loja em 1999 e pensei “ O que é que vai sair daqui?”. Em 1999 abri a primeira loja na costa, fiz o Natal, as coisas começaram a correr bem. Passei a ter alguns contactos em Lisboa, e no ano seguinte vim para Lisboa e tudo começou a surgir assim – sem publicidade, sem nada.

Não tenho nada na Internet, apenas no Facebook. Não sou nada do género de publicidade e as coisas vão surgindo boca a boca. Por exemplo: as noivas que aqui aparecem, não sabemos como vêm cá ter, e são sempre muitas. Depois de perguntarmos é que descobrimos que vêm cá ter devido a convidados que gostam do nosso trabalho ou referenciadas por outras amigas que já se casaram.

Normalmente como faz o seu trabalho num casamento: apenas só ramo da noiva, ou o trabalho todo de decoração floral?

Depende sempre das noivas e dos orçamentos que elas têm. Normalmente, hoje em dia os caterings oferecem tudo e apenas aquelas noivas que são mais exigentes e que não gostam das propostas que o catering faz, recorrem a um florista particular. Atualmente, não fazemos a decoração das mesas com tanta frequência como se fazia antigamente, porque o próprio catering já se atualizou e trabalha com outras empresas de decoração que já fazem a decoração dos espaços. Já estão mais esclarecidos, sabem quais são as tendências, e já se vão atualizando usando vidros, casquinhas, etc. Mas há sempre uma noiva mais exigente que ainda nos prefere.

Em média quantos casamentos faz por ano que peçam um serviço de decoração floral completo?

Este ano com o serviço completo fiz cerca de 8 casamentos. Isto porque hoje em dia os casamentos são mais pequenos e logo o custo da decoração das mesas acaba por ser mais baixo. Isto porque um centro de mesa pode custar entre 50€ e os 70€, e num casamento mais pequeno é um orçamento mais fácil de suportar.

Qual o maior casamento que fez até hoje?

Já fiz casamentos para 300 e 400 pessoas. Usualmente faço um acordo com a noiva, onde lhe digo que não sei o que poderá surgir. Porque considero que não devem ser 40 centros de mesa todos iguais, por isso, tem de haver sempre uma grande negociação com a noiva. É evidente que há sempre uma linha condutora na decoração, mas não faço algo demasiado milimétrico, porque não gosto de uma decoração toda exatamente igual.

Tendências?

As tendências vêm de acordo com o projeto que as noivas trazem, desde estofos, mobiliário... Por exemplo, em casamentos de decoradoras de interiores que já realizei, elas próprias têm os seus tecidos. Mandaram fazer as suas toalhas porque o catering não as tinha, negociando posteriormente para que o catering ficasse com as toalhas – desta forma a noiva não necessitará de ficar com 30 toalhas de mesa. Mas isso é conforme o projeto que recebo. Trabalho sempre com tons muito claros, pastéis, brancos, rosas velhos...  Porém, há pouco tempo fiz um casamento em amarelo, verde e branco, algo que nunca me surgiria na ideia de fazer, mas porque a noiva fez umas almofadas em amarelo, e as toalhas das mesas eram pretas e brancas às riscas, surgindo a partir daí a ideia do tom amarelo. A paleta era amarelo, branco e verde e fizemos vários pequenos arranjos no centro da mesa, tendo ficado giríssimo. Mas, por tendência uso sempre verdes, verdes águas, brancos, beges, rosa clarinho, rosa mais escuro, uma paleta de cores muito romântica, mas sempre dentro dos tons pastel.

Quanto custa um bouquet de noiva?

Nós temos uma tabela na qual não mexemos, que custa 275€ e que inclui o ramo principal, outro semelhante mais pequeno para a noiva atirar, e as lapelas para os padrinhos, pais e noivo que no máximo são 7. Mas claro que às vezes pedem outro porque, por exemplo, um irmão também prefere usar, e claro que também é feito. Isto vai tudo dentro de uma caixa de cartão especial com pétalas. Este preço existe porque tenho sempre de encomendar 4 ou 5 variedades de flores, e não se pode apenas encomendar um molho, tendo sempre de encomendar mais que um, ou seja, existe sempre muita sobra. E quando é branco tem de se ter muito cuidado porque é fácil danificar as flores e estas ficam marcadas facilmente, e como tenho sempre medo que as flores não cheguem em condições, encomendo sempre a mais.

 Por exemplo, uma noiva quer casar no Algarve e quer que seja o Maurício a fazer o ramo, como deve fazer?

O ideal é: vir buscar no próprio dia e levar para o Algarve, como se leva para o norte ou muitas vezes para o Alentejo.

Dicas para as noivas, tendo em conta as estações do ano?

Uma vez fiz para uma revista 4 páginas com 4 ramos relativos a cada estação. Normalmente o que acontece é que a linha dos bouquets continua a ser a mesma, o que pode mudar são as flores de acordo com a estação. Hoje, quase todas as noivas querem casar com peónias, mas as peónias não existem em todas as estações e tem de se negociar a substituição das flores.  Quer dizer, a estação das peónias é Maio, é quando elas estão bonitas, no resto do ano não são tão bonitas ou ficam sempre em bolbos. Mas o bouquet também tem a ver com a imagem do vestido que me trazem, pois peço sempre a imagem do vestido de noiva para me inspirar. Tento sempre aconselhar o ramo que fica bem com a noiva. Ultimamente, tenho aconselhado outras sugestões, mesmo a algumas noivas que desejam um ramo como o da princesa Kate, porque esse ramo nem sempre é o adequado para essa noiva. Desta forma faço consultoria, mas não cobro por isso. Mesmo em termos de penteado gosto de saber que tipo de penteado, maquilhagem e joias vai usar – o ramo tem de estar integrado, e o ramo não é a imagem principal da noiva, porque a imagem principal é a noiva, e nem sempre um ramo muito vistoso é o ideal. Na igreja não se vai ver a noiva, mas sim o ramo. Os ramos e as tendências têm a ver com o estilo dos vestidos, como um vestido mais clássico requer um bouquet mais clássico, um barroco, requer outro ramo. Nós tentamos encontrar sempre a melhor solução. Em termos de estação temos sempre as flores ideais para a primavera, como flores mais pequenas; mas existem também as peónias e as hortênsias mais volumosas e isso também é uma tendência atual. Embora também se façam ramos coloridos, a nossa tendência são ramos mais suaves. Essa é a nossa imagem de marca. Quando opto pelos verdes é sempre um verde suave e muito calmo, e nunca verdes garrafa, mais escuros.

Qual a situação mais caricata, o pedido mais extravagante?

Não será considerado extravagante, mas já fiz clutchs de flores, bolas, inúmeras outras coisas, mas a tendência atualmente para o bouquet de noiva é o clássico. Já houve uma tendência de usar bouquets e flores mais diferentes, coloridas, elementos muito rígidos... Para mim uma noiva é uma noiva, começando pela lingerie. É um dia muito especial, embora existam sempre noivas diferentes, como uma noiva que tive há pouco tempo que se ia casar de vestido vermelho curto, mas que combinava na perfeição com a personalidade da noiva. Mas quando o casamento é na igreja, algo mais tradicional, penso que há certas cores e coisas que não são tão adaptáveis, mas isso depende sempre de cada noiva.

Decoração da igreja?

Sim faço, até faço mais igrejas do que salas de recepção. Nas igrejas detesto exageros porque a minha imagem está representada sempre no meu trabalho. Por isso, vou sempre visitar a igreja, embora a maioria das igrejas já as conheça, e quando uma noiva se dirige até mim, e diz que vai casar na igreja X, já sei o que o padre ou a beata permite, os locais onde não se pode colocar flores, e então faço logo um desenho de 3 ou 4 apontamentos bons e mais nada. O máximo que posso colocar é uma passadeira branca, porque é muito elegante. Mas flores não uso mais do que 4 apontamentos em alguns pontos, e nunca uso grandes ornamentos. Sou elegante, está lá, é suficiente.

Como gostaria de ser conhecido?

Como sou. Eu faço tudo com flores, embora não trabalhe muito com funerárias, só apenas para alguns clientes mais exclusivos, e faço tudo com flores frescas tal como se faz num trabalho nosso.

Já pensou em fazer workshops?

Estou a pensar fazer um workshop em breve, mas ainda não sei bem ao certo quando, porque é um projeto que ainda tenho de planear. Talvez para a Primavera.

Com quanto tempo necessita uma noiva de requisitar os seus serviços?

Pode vir hoje uma noiva, que se vai casar em Setembro do ano que vem e ainda não tenho agenda do ano que vem. Embora também me possa surgir uma noiva a pedir um bouquet para amanhã, e não é impossível, apenas vai ter de se contentar com as flores disponíveis na loja, sem grandes exigências. Para que a coisa resulte bem, necessito de 15 dias a 3 semanas, porque falo sempre com a noiva, dou-lhe um tempo para assimilar as ideias, estando ainda a tempo de modificar tudo, podendo eu mudar as encomendas com antecedência. Se a noiva mudar de ideias é uma questão de me ligar e de voltamos a encontrar-nos e a reformular a ideia. Desta forma já existe um timing para trabalhar bem.

Para noivas mais exigentes faço uma amostra de como o bouquet pode ficar com algumas flores que tenho disponíveis na loja. Podemos não ter o material necessário, mas em termos de volume e textura, gosto de dar uma ideia do resultado final. Antigamente fazia uma maquete, mas acontecia que a maquete levada pela noiva, poderia não coincidir a 100% com o trabalho final, porque a mãe natureza é que decide, e nem sempre uma flor rosa volta a surgir exatamente nesse tom, e então as noivas poderiam não ficar satisfeitas com a diferença de tons, ficando muitas vezes presas à maquete. Atualmente, prefiro apenas dar uma ideia da textura e do volume. A maioria das noivas vem sempre com algumas fotografias de revistas, sites, mas nunca deixo de fazer consultoria, pergunto sempre: que cores prefere, se grandes pequenas, se gosta de volumes ou de flores pequenas, quando era adolescente como sonhava casar...   Depois de processar essa informação fazemos uma proposta de acordo com o que consideramos ser o ideal. Começo sempre por mexer no passado e nos sonhos da noiva.

Alguma ideia nova para os próximos tempos?

Já temos uma nova loja. Mas gostava de dizer que existem pessoas que pensam que a nossa loja é cara, e não o é. Tenho clientes ou outros fornecedores, que vendem flores diferentes das minhas, mas quando cá vem uma cliente para fazer uma jarra para levar para casa há sempre uma solução. As pessoas podem ter flores todas as semanas em casa sem gastar muito dinheiro. Tem é de ter em consideração que uma jarra grande deve apenas ser usada num jantar mais festivo e entretanto podem optar por outro tipo de jarras mais pequenas, colocadas em locais mais estratégicos. Porque preencher uma jarra enorme pode ser mais custoso do que várias pequenas.

Com quem conta para o ajudar no seu trabalho?

O João é uma pessoa que faz as entregas. Trabalho em casas particulares, restaurantes, lojas, hotéis. Em alguns locais vou ao local fazer o trabalho, outros vêm buscar diretamente à loja. Ando sempre de avental no meio da cidade!

Casamentos de famosos?

Como a maioria das vezes apenas vem um familiar ou quem está a organizar o casamento, só descubro mais tarde pelas revistas que o bouquet de noiva era meu. Ainda há dias estava a Soraia Chaves na loja, e apenas me apercebi quando alguém me disse que acabou de sair a Soraia Chaves. Já tive algumas outras situações muito semelhantes. Por exemplo, no caso da Catarina Furtado, tive de fechar a loja para fazer o bouquet, porque estava rodeado de fotógrafos para fotografarem o bouquet. E quando saí da loja foi um martírio para que ninguém visse o bouquet.

Já considerou escrever um livro sobre os seus trabalhos?

Já, são ideias de inúmeros clientes. Tenho um cliente que me fotografou as montras da antiga loja, e apenas isso daria um belo livro. Tenho pena de não ter imagens de uma loja no Espaço Chiado que era um cubo de vidro, onde toda a loja era montra. Semanalmente a loja era mudada, e havia semanas em que a loja estava fantástica. As pessoas sentadas a almoçar adoravam ver a montra. No entanto, dava bastante trabalho a manter.

E como gostamos de pregar partidas, Maurício dispôs-se logo a colaborar connosco camuflando o nosso significado de um dia especial que pertence ao amor.

Flor favorita?

Peónias! Sinto que eduquei pessoas a conhecer as peónias. A peónia demora muito tempo a crescer e produz-se muito em climas mais frios e, tal como a cameleira, existiam no norte, em casas de famílias antigas. Claro que também adoro outras flores, como magnólias ou hortênsias.

Nota: O espaço Em Nome da Rosa foi considerado um espaço Cool e a não perder em Lisboa, pelo Lisboa Cool.

Ficha Técnica: 
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Introdução da reportagem: 

Que dizer sobre um artista floral apaixonado pelo seu trabalho? Maurício Fernandes, responsável pela criação do Em Nome da Rosa, é um artista que cunha todos os seus projetos com o seu reconhecido bom gosto – não foi à toa que o selecionamos para ilustrar, com as suas criações, o livro d’O Nosso Casamento.